Durante o tempo em que atuei em farmacêuticas, aprendi a ter uma enorme admiração pelos propagandistas ou representantes, como queiram.
Explico: desde o começo, o foco da minha atuação profissional sempre foi o comportamento humano e, lógico, a questão das relações interpessoais. Por isso me tornei psicólogo e busquei especialização em Análise Transacional, que trata brilhantemente desses temas. Aliás, já perdi a conta do número de propagandistas que participaram das minhas palestras e seminários.
Minha admiração por esses profissionais, entre outras razões, reside justamente no fato de que eles são mestres na arte do relacionamento.
O trabalho deles consiste em diariamente visitar médicos – mais de uma dezena por dia – das mais diferentes especialidades e – aqui está o “x” da questão – das mais diferentes personalidades. Há aqueles muito e pouco receptivos, bem e mal-humorados, calmos e apressados, pacientes e outros nem tanto. Uma diversidade.
Em cada visita, o propagandista dispõe de poucos minutos para decifrar qual o jeitão do doutor, adaptar-se a esse jeitão e “vender seu peixe” – ou seja, apresentar seu produto.
Esse ciclo se repete uma, cinco, dez, quinze ou mais vezes por dia – chova ou faça sol, com ou sem trânsito congestionado.
E o mais legal disso tudo é que o propagandista não perde seu bom humor, sua energia, sua determinação de bater metas.
Claro que todo e qualquer profissional tem lá suas dificuldades e desafios no trabalho. Mas, amigos, eu que há décadas lido com o comportamento humano, posso afirmar o quanto é difícil e desgastante emocionalmente essa necessidade de adequar várias vezes ao dia seu modo de se comunicar, seu “jeito de ser”. É como se, por alguns minutos, você tivesse que se transformar em várias pessoas no mesmo dia. Com certeza, isso causa um grande desgaste emocional. Sim, até porque o propagandista também é humano, e, em alguns momentos, sua vontade mesmo seria dar uma resposta muito diferente daquela que o papel profissional recomenda. Mas ele conta até 20, se mantém firme na postura adequada e segue em frente. Isso também se chama talento.
Nem vou falar da frequente incompreensão daquelas pessoas que, na sala de espera do médico, veem o propagandista passar na sua frente. Já escrevi sobre isso.
Hoje, quero apenas, mais uma vez, homenagear esses valorosos profissionais, porta-vozes de medicamentos que, certamente, irão levar saúde e felicidade para quem está precisando.
E quem não está?